segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Para ser grande, sê inteiro


Há um poeta que respeito particularmente...Fernando Pessoa, antes de mais porque me faz pensar, ele não nos dá um resposta concreta, contradiz-se...deixa-me sempre a pensar...

"Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e nao estamos de maos enlaçadas.
(Enlacemos as maos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e nao fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as maos, porque nao vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixoes que levantam a voz,
Nem invejas que dao movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagaos inocentes da decadencia.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as maos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço."

Ricardo Reis

"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive"

Ricardo Reis

E nós, apenas ficamos a ver o rio passar ou somos grandes por inteiro?
Sinto, pessoalmente, que osu grande por dentro, mas que a maior parte das vezes fico a ver o rio passar...discuto, falo, penso...mas passar para a acção...é mesmo um desafio por quanto sou no mínimo que faço.
Ass: Di

4 comentários:

Anônimo disse...

hum....Lembro-me de dar ambos os poemas no meu 12º...Grande questão: passar pela vida meio que anestesiados, como uma sombra num mundo de luz, ou viver de paixões e momentos de tirar a respiração?

Pôr quanto sou no minimo que faço?
Acho que sou exageradamente muito eu em tudo o que faço, mas não acho que quem veja o que faço me conheça na totalidade...

*

Anônimo disse...

“Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.”

È incrível como numa quadra se resume uma vida… Somos crianças adultas e nada mais do que isso. Todos queremos ser puros e verdadeiros como uma criança e no entanto permanecer na antagónica vida de um adulto. Não somos mais que simples viajantes nesta estrada a quem chamam vida, não somos mais que pessoas desconhecidas mesmo que sejas alguém que normalmente caminha comigo.
Todos queremos parar o tempo e ser o infinito como uma criança, mas sabemos que a vida “nada deixa e nunca regressa”. No fundo todos somos crianças adultas.

“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive”

“Põe quanto és No mínimo que fazes”. Para mim esta é a frase chave, entrega-te totalmente num simples gesto como um comprimento, põe-te num simples gesto de carinho, numa conversa ou até mesmo numa discussão, pois quando o fazes estarás a ser realmente tu, sem mascaras e sem capas de super-herói… Serás tu, simplesmente tu, o ser que te fará chegar mais alto, te fará ser grande pois colocando quanto és no mínimo que fazes estarás a ser inteiro e no teu “lago a lua toda brilha, porque alta vive”.

Anônimo disse...

Sim, concordo contigo filipe...em cada palavra:D

Anônimo disse...

Este último poema é qualquer coisa que enche o coração...
A mim marca-me muito, e traz me grandes recordações!